terça-feira, 4 de outubro de 2016

Preconceito com tatuagens, associada à criminalidade

JULIANA S. KOBAYASHI


Na sociedade atual, não é pouco o número de pessoas que consideram a tatuagem uma intervenção negativa, dificultando a aceitação e gerando preconceitos. Para muitos, elementos como tatuagem, grafite, skate, e piercing caracterizam uma tribo diferente, geralmente associados a uma cultura underground e à criminalidade. Isso se deve à própria história da tatuagem na cultura ocidental, que se expandiu através dos marinheiros em portos, que não eram bem vistos pela sociedade. 

Tiago Moriningo Bruemeller, psicólogo, coloca que ela surge como uma forma de comunicação através do corpo, um tipo de expressão artística. Ele também fala sobre a tatuagem e o preconceito, devido à associação com a criminalidade:


Roosevelt Luciano, 23, fez a primeira de suas três tatuagens assim que chegou à maioridade. Ele fala que todo seu estilo - roupas, tatuagens e brincos - acabou levando a diversas situações nas quais sofreu preconceito. Ele ressalta que, em sua maioria, foram situações ligadas à sua área de atuação, já que trabalha com piscicultura, e no campo das Agrárias as pessoas geralmente não são abertas a estilos diferentes. Confessa também que já se arrependeu em alguns momentos de ter feito suas tatuagens, devido ao preconceito. 

Contudo, conforme foi se especializando e desenvolvendo um trabalho de qualidade, ele passou a ser valorizado, independente de sua aparência e hoje não se importa mais com o preconceito sofrido.

Shayenne começou a tatuar devido à sua paixão
por desenho
(Foto: Juliana S. Kobayashi)
A tatuadora Shayenne Fontes Nogueira, 25, fez sua primeira tatuagem em 2012. Hoje, com 12 tatuagens de diferentes formatos e tamanhos, afirma que nunca sofreu preconceito pelas intervenções que tem, mas sim pela profissão de tatuadora. Muitas pessoas não enxergam o ato de fazer tatuagem como um emprego digno, e ficam surpresas quando ela conta que fez faculdade, mas optou por trabalhar nessa área.  

Entretanto, a situação é diferente com seus clientes, já que, em sua maioria, eles se preocupam em fazer os desenhos em lugares pouco visíveis, pois a maioria tem medo de, no futuro, passar por dificuldades de encontrar um emprego.

Sobre o preconceito com pessoas que possuem tatuagem, Shayenne conta que em seu trabalho já testemunhou diversas situações singulares. Uma de suas clientes sempre desejou fazer uma, mas o marido não permitia. Quando ela reuniu coragem o suficiente, fez a tatuagem contrariando o esposo, o que acabou levando ao fim do seu casamento. 

Além disso, é frequente jovens, que, apesar de serem maior de idade, fazem tatuagens em lugares escondidos para que os pais não vejam. Ela relata o caso de um jovem homossexual, que tatuou um símbolo que marcava sua orientação sexual, mas em um lugar pouco visível para que seus pais, que não sabiam da sua orientação, não tomassem conhecimento.

João participou de um concurso de tatuagem em 2013, no qual o
trabalho do seu tatuador foi premiado
(Foto: Jackson Tattoo)
João Alberto, autônomo, fez sua primeira tatuagem aos 24 anos e hoje, aos 31, já possui três desenhos que ocupam quase toda a superfície do lado direito do seu corpo. Ele disse que, desde pequeno, sempre gostou de desenhar e queria algo em sua pele. “Acho bonito e cada tatuagem tem um significado especial ou conta uma história, faz parte de algum momento da vida”, declara. 

Contudo, ele já passou por algumas situações constrangedoras por causa das modificações. João relata que, certo dia, indo jogar futebol, vestido de bermuda e regada, saiu do ônibus e uma senhora, ao olhar para ele, começou a fazer o sinal da cruz. Ele acha que o preconceito com as pessoas tatuadas, em toda sua origem, se deve à falta de informação.

Tiago diz que estamos passando por um processo de desconstrução da relação entre tatuagem e criminalidade. O psicólogo coloca que, olhando para o passado, podemos ver que o estigma com esse tipo de modificação corporal era maior. Ele acredita que, com o tempo, o preconceito existente irá diminuir. 

Hoje em dia ele percebe que a qualidade do trabalho, as cores, os temas diversos que expressam ideias, afetos, momentos da vida são mais comuns e cada vez menos associados a comportamentos inadequados, se consolidando como uma forma de comunicação e expressão pelo corpo.

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